O artesão Lineu Bravo é um luthier que faz sucesso no
Brasil com seus instrumentos profissionais feitos sob medida no Vale do Paraíba.
Por Alessandra Maria – Vale Repórter Unitau
Digite a palavra “luthier”
no Google, e, depois do link da Wikipedia, Lineu Bravo será o primeiro registro
da lista. Um profissional como ele precisa ser facilmente encontrado pelos
músicos de todo o país. Lineu já fez instrumentos para várias estrelas da
música brasileira, como Chico Buarque, Ana Carolina, Guinga, entre muitos
outros. E, sim, ele mora e se dedica à arte de construir violões, cavaquinhos e
bandolins na cidade de Taubaté (SP).
A habilidade de Lineu com
madeira começou há muito tempo, em Sorocaba (SP), sua cidade natal. Quando era
apenas uma criança, ele gostava de perguntar ao pai: “Vai sobrar alguma coisa?”
O que o menino queria eram apenas os restos de madeira do trabalho do pai
marceneiro. Com os “presentes” que recebia do pai, o jovem Lineu gostava de
construir os seus próprios brinquedos feitos de sobra da madeira. Já seu
primeiro contato com a música foi por conta da mãe, que vivia a cantar e a
ouvir rádio, pois gostava muito de música. Aos 10 anos, Lineu aprendeu sozinho
a tocar cavaquinho.
Aos poucos, o jovem foi se
distanciando do seu hobby com a madeira. Trabalhou em uma loja de materiais de
construção e, mais tarde, chegou a fazer dois anos de faculdade de Direito. Mas
as coisas não estavam dando certo. Ele estava ‘quebrado’, sem emprego, sem
dinheiro, sem expectativas. Era final dos anos 90, e uma ‘febre’ de pagode
dominava o país. Foi quando Lineu decidiu fazer uns cavaquinhos para vender. De
começo, não deu muito certo, pois suas criações não venderam rápido. A vida
toda ele já havia feito vários instrumentos como hobby, mas construir um
violão, isso ele nunca havia experimentado. Apareceu então, um amigo que lhe
emprestou um violão de boa qualidade, e Lineu tentou fazer seu primeiro violão
na mesma linha desse instrumento. Depois disso, sua vida se desenrolou e a
dificuldade encontrada na venda dos cavaquinhos não existiu com a venda dos
violões. O destino não conseguiu separar o Bravo luthier da madeira.
Vários desafios se
apresentaram. “Eu aprendi a fazer, fazendo”, confessa, de bom humor, Lineu
Bravo. Ele nunca leu um livro sequer sobre a arte da luthieria, nunca fez
cursos, nunca trabalhou com outro luthier e muito menos tinha entrado em uma
fábrica de violão quando começou. Com mãos já habilidosas para mexer com
madeira, Lineu tentou entender a função de cada parte do violão e juntando isso
com o ouvido apurado, desenvolveu o que tem hoje, a marca de violões Lineu
Bravo. “Eu não entendia a lógica da acústica do instrumento. Então, eu peguei
um violão e tirei mais ou menos as medidas e tentei entender porque aquelas
coisas tinham aquele formato”, relembra o luthier. “O maior desafio foi tentar
conseguir a sonoridade que eu queria, utilizando os materiais que eu tinha”.
Ele escolheu Taubaté para
se instalar e fabricar violões. Para ele, a cidade do Vale tem qualidade de
capital e tranquilidade de interior, num ponto geográfico estratégico, próximo
à Rodovia Presidente Dutra que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O sucesso de
Lineu está na preocupação com os pequenos detalhes, isso faz com que seus
instrumentos sejam de ótima qualidade. “É preferível um violão com bom material
feito por um luthier excepcional do que um material excepcional feito por um
luthier mais ou menos”, opina o talentoso fabricante de violões, bandolins e
cavaquinhos.
O profissional sempre
trabalhou sozinho, não tem coragem de deixar ninguém responsável por uma parte
sequer na montagem do violão, cada detalhe é importante, e só ele sabe todos os
ajustes e processos necessários. Lineu adora ter o feedback dos clientes, pois
é com as críticas que consegue aprimorar seu trabalho.
Um cuidado muito importante
é manter a madeira longe da umidade. No local onde ele faz a fabricação, possui
uma sala especial com um desumidificador de ar, onde fica armazenado o seu
material de estoque e onde acontecem alguns processos de colagem e de pintura
dos instrumentos. Em seus 12 anos de carreira, o luthier já fabricou cerca de
400 instrumentos, sendo que cada um demora entre dois a três meses para ficar
pronto. Esses detalhes fazem com que cada vez mais músicos procurem luthiers,
pois na linha de montagem em um fábrica de instrumentos não existem esses
cuidados perfeccionistas que os grandes expoentes da música brasileira
procuram.
Ao digitar “luthier” no
buscador mais famoso da internet e encontrar o site de Lineu, dá para ler, no
mesmo link, depoimentos de vários músicos de renome. Chico Buarque, por
exemplo, escreveu assim: “O violão do Lineu Bravo é o de minha estimação. Além
de bonito toda a vida, é violão compositor”. Já Guinga deixou o registro: “O
Lineu é a grande revelação da construção do violão. Ele ascendeu muito
rapidamente e estará brevemente entre os melhores do mundo. É um gênio”.
E este trabalho é
reconhecido pela cidade de Taubaté. Em agosto, Lineu foi homenageado na Casa do
Figureiro, em solenidade da Câmara Municipal de Taubaté, no Dia do Folclore.
“No primeiro momento, eu fiquei surpreso pelo convite; no segundo momento, eu
fiquei surpreso por ser pelo Dia do Folclore. Então, eu pensei: Será que eles
estão confundindo mula-sem-cabeça com mula-sem-cabelo?”, brinca Lineu. “Mas o
folclore é cultura popular e eu sou um cara que trabalha em função da música
popular”.
A profissão de luthier é
clássica, artesanal e exótica. Mesmo assim, Lineu não deixou de usar a
tecnologia a favor de seu trabalho. Por não gostar muito de mexer na internet,
contratou um profissional para fazer sua página no Facebook, além de um site,
vídeos no Youtube e um blog. “As redes sociais potencializam o grande talento
do luthier”, afirma Kelly Nagaoka, dona da empresa Nagaoka Mídias Sociais, que
presta serviço de assessoria digital a Lineu Bravo. Kelly admite que, para esse
tipo de trabalho, é preciso ter bastante cuidado quanto ao conteúdo postado. “O
cuidado é na pesquisa do conteúdo que não é comum em nosso dia a dia, isso exige
um maior estudo de quem escreve para as redes sociais de Lineu”, afirma a
empresária.
Lineu leva hoje uma vida
tranquila, está em “um relacionamento sério”, trabalha em horário comercial,
pratica atividades físicas, fabrica violão – mas não toca – e quem quiser
encomendar um Lineu Bravo terá que esperar mais ou menos um ano para receber
seu instrumento exclusivo e feito sob medida. Uma vida normal para quem tem uma
profissão tão exótica.
Para o futuro, Lineu deseja
continuar trabalhando e se aperfeiçoando na arte da luthieria. Agora, se alguém
quiser saber quanto custa um violão Lineu Bravo, vai ter que começar procurando
o luthier no Google.´
Como eu havia dito no início, a matéria foi capa do jornal Diário de Taubaté no dia 27 de setembro de 2013 e ganhou uma página inteira.