12 de novembro de 2014

Lágrimas de uma mãe qualquer

Eu cheguei com um sorriso, mas ao olhar para seu rosto já vi que havia algo errado. Era o rosto de uma mãe, da Dona Ana.
Ana é daquelas mães que dão a vida por seus filhos. Tira da própria boca pra dar pras crianças. Não viaja, não passeia, não curte a vida. Sua função é garantir um futuro melhor para os filhos.
Lágrimas começaram a brotar em seus olhos e eu me espantei. Palavras e mais palavras, desabafos. Ana estava a beira da depressão. Depressão não é tristeza, e sim a falta de esperança.
Ela tinha feito uma drástica descoberta naquele dia: a de que seu filho era usuário de drogas. Encontrou a droga dentro de sua própria casa e o filho foi obrigado a confessar. Seu mundo se despedaçou. Nada fazia sentido. Escuridão. Dúvidas. Medos. Mas mesmo assim, amor. E a grande questão era: Por que?
  - Sou uma boa mãe, sempre dei tudo, fiz de tudo por eles, como ele faz isso comigo?
Dizia Ana aos prantos. Até então eu nunca tinha visto de perto o efeito das drogas. Elas não fazem mau apenas ao corpo, não é só o físico que afeta, o psicológico é o que mais sofre. E o usuário não sofre sozinho, a família toda sofre junto.
Eu queria apenas que esse filho ouvisse o que eu ouvi da mãe dele. Eu queria que esse filho visse as lágrimas derramadas. Filhos nunca estão satisfeitos porque não entendem como funciona o mundo. As coisas não são fáceis para ninguém.
Mãe, me ajuda.

7 de novembro de 2014

Desabafo sobre o trânsito

A vida toda eu sonhava com o dia em que poderia dirigir. Já sonhei muitas vezes literalmente. Sempre foi algo que me fascinou, poder ir aos lugares por si mesmo, sem depender dos outros, poder ser útil, ser livre. Sempre achei que quando completasse 18 anos, no dia seguinte já estaria fazendo as aulas da autoescola. Doce ilusão.

Aconteceu que, fiz 18 e nada mudou. Não tinha tempo e muito menos dinheiro pra pagar autoescola. Eu era estagiária, trabalhava o dia todo, ganhava muito mau e meus pais não tinham condições de pagar pra mim. Enfim, fui dar entrava da autoescola 8 meses depois da maioridade, e paguei parcelado ainda. Finalmente achei que em breve realizaria aquele sonho. Mais uma doce ilusão. A burocracia é gigante no Detran. É papelada, é documento, é foto, é médico, é tudo. Aulas e mais aulas. Prova teórica que foi marcada para depois de três meses. Quarenta horas de aulas práticas. É luta e espera que não tem fim.

Já com 19 anos, consegui ela, a tão sonhada carteira de motorista (ou PPD para os "iniciantes", que é o meu caso), o pedacinho de papel que iria mudar a minha vida. Ou deveria.

Nada mudou. Continuei andando de ônibus e dependendo da boa vontade dos meus pais para emprestar o carro para ir na esquina comprar pão, só para ter o gostinho de dirigir.

O desespero aumentou. Tanta luta pra nada, pra continuar nessa vida de sair 1h30 mais cedo de casa por causa do ônibus.

Após uma grande dose de coragem, sorte e iluminação divina, consegui comprar uma moto. O sonho era um carro, óbvio, mas acabou que agora gosto muito mais de moto.

Foi ai a minha verdadeira estréia como motorista nesse trânsito de Taubaté/Tremembé.

E foi aí que chegou mais uma decepção. Descobri que o trânsito não é tão legal assim. O trânsito é decepcionante e as pessoas são mais ainda. Achei que os motoristas eram felizes por poder dirigir e ir aonde quiser, mais então vi que os motoristas odeiam dirigir. (Aposto que não lembram da época em que pegavam ônibus).

Ninguém respeita ninguém, muito menos as leis de trânsito. Estar na rua te faz desaprender a dirigir. As pessoas fazem tudo errado. De acordo com minha observação, mais de 50% dos motoristas não dão seta ao virar (algo de extrema importância nessas cidades que possuem milhões de rotatórias). As pessoas não param quando devem parar, não dão preferencia quando é pra dar, não parar para os pedestres nem mesmo na chuva. Uma vez parei para uma velhinha atravessar e todos os carros atras ficaram buzinando. Falta de educação.

As pessoas não dirigem para os outros, como deveria ser, elas dirigem para si próprias, não estão nem aí, viram sem dar seta mesmo, passaria por cima até se pudesse. E tem também aqueles que são tão desligados que só veem que o sinal abriu quando ele está fechando.

O trânsito é triste, as pessoas são ignorantes. Gostaria que os motoristas se lembrassem da época em que andavam de ônibus e demoravam duas horas para chegar ao seu destino, dar a preferência pra alguém ou parar para um cidadão atravessar a rua, não vai acabar com sua vida.